26 de fevereiro de 2011

A Partida

Se deu em uma manhã de domingo, março de 2003, o céu tinha a cor do chumbo, chovia bastante. Depois de um longo abraço, um beijo e um até mais ela entrou no portão de embarque. Não demorou muito para o avião decolar, ele se manteve firme até seu olhos não conseguirem mais enxergar a aeronave. Chorou copiosamente. A tarde chegava, mas não se notava pois ainda negro o céu e teimosa era a chuva que caia. Chega então a noite escura e sombria, toca o telefone, de um lado a euforia da chegada do outro a tristeza da partida. E uma mistura de sentimentos e desejos se fez. Ora amargo e desesperado pois sabia-se que perdera seu grande amor. Os dias não perdoavam, passavam lentamente, como que de proposito pra aumentar a dor e a angústia que a distancia causava em seu jovem e inquieto coração. Eis que chega a primeira de muitas cartas que traziam noticias, novidades, surpresas e renovação sempre que lia um eu te amo, um me espera, ou um sinto sua falta. E os dias se transformaram em semanas, e as semanas em meses e os meses se uniram em um londo e doloroso ano, e a dor daquela partida se fazia ainda viva e forte dentro do seu peito. Amigos, festas, garotas... Nada era capaz de lhe tirar da lembrança seu primeiro e verdadeiro amor. Os meses continuavam sem piedade passando e assim se foi mais um ano, dois... As cartas chegavam com menos frequência até que pararam de chegar, o telefone se calou, o que sobrou além do silencio, foram as lembranças de seis meses incríveis, sublimes foram as experiencias vividas com emoção e uma certa dose de inocência. Muito aconteceu, amores, brigas ridículas a dois, cartas de amor, viagens, um quase casamento, quase se tornou pai, mas o destino impiedoso lhe tirou essa alegria também, antes do seu nascimento. E veio a solidão e a doença que trouxeram o álcool e as drogas e depois a cura! Sete anos se passaram e uma mensagem de texto faz tocar o celular, era uma mensagem de um estimado amigo que dizia apenas, "Sabe quem chegou?" Era o suficiente para seu coração gelado deixar seu corpo em completo estado cataléptico, e como se o seu sangue fugisse das veias. Se passaram dois longos dias até o tão aguardado reencontro. Quando viu sua imagem refletida em um espelho percebeu que não tinha deixado de amá-la e até a ela caminhou como se o resto do mundo não existisse, o tempo parou naquele momento pra contemplar os dois ali em um abraço de quase cinco ou seis minutos, talvez mais. Nenhuma lágrima foi derramada, não havia ali espaço para tristezas. Muito se conversou durante o resto da noite, conversa que varou a madrugada e teve como testemunha o nascer de um novo dia. Sentimentos e emoções que jamais pensou em sentir outra vez voltaram como se nunca tivessem o deixado. Como se não tivesse passado sete anos e sim sete dias, mas a alegria tinha prazo de validade, uma semana, e mais uma vez ele assistia inerte e impotente a partida do seu grande amor, agora com uma certeza de que era ela sua alma gêmea e que a teria em seus braços como sua mulher nessa ou na outra vida.

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